sábado, 9 de junho de 2007

Chávez X RCTV

Esse post de hoje caracteriza bem a idéia do Carta Desmarcada. É uma notícia atual e uníssona na mídia brasileira e internacional que nos cerca. Tá meio difícil pra mexer com internet e computador nesses tempos de pós-cirurgia pra mim, mas ou eu fazia isso logo ou o momento oportuno iria passar.
É sobre o fechamento da Rádio Caracas de Televisión – RCTV, na Venezuela. Antes de qualquer coisa, quero deixar claro que entre os dois pólos (o “contra” e o “a favor”), podem existir considerações que pendendo tanto prum lado como pro outro. Mas, como a nossa mídia nitidamente polarizou-se pro lado contra, me restou o papel de advogado do diabo.
A notícia já está dada há algum tempo e todo mundo já está sabendo. O modo esse quadro foi pintado por todas as agências midiáticas (as maiores, obviamente) também já sabido, embora a maioria não tenha se dado conta disso. Então, o que sobrou pra mim foi o de tentar mudar o foco da discussão e dar destaque a certos elementos que são, pra mim, fundamentais para a compreensão desse ocorrido. Como não é minha intensão fazer um post grande demais ou ficar falando sozinho, vou tentar destacar o que acho mais importante.
O primeiro elemento é o porquê, ou qual é o interesse nesse ocorrido. A primeira reflexão a ser feita é de que Chávez se encontra numa enrascada – mexeu com quem diz o que aconteceu no mundo e como aconteceu. Ele cutucou a mídia e quem ficou encarregado de dizer como isso ocorreu foi a própria mídia. Sendo assim, haveria alguma possibilidade da Globo se posicionar favoravelmente à medida na Venezuela, independente das razões?! Aliás, a sucursal da Globo na Venezuela cedeu um importante espaço em sua grade para a RCTV continuar transmitindo alguns de seus programas. Será que há possibilidade?
Tem outro ponto que também é sobre interesses, mas nesse caso o que quero destacar é a relação entre as motivações, de um lado as de Chávez e sua equipe de encerrar a concessão da RCTV e, do outro lado, a motivação da mídia em geral para ter veiculado propaganda nitidamente negativa à medida de Chávez (aproveitando pra criticar seu governo) e de forma tão tendenciosa.
Pra discutirmos isso, é necessária uma mudança de prisma, pra desmistificarmos o ar de verdade absoluta que paira sobre qualquer palavra proferida por Wilian Boner, Carlos Nascimento, família Civita (Veja) aos tão massacrados olhos e ouvidos do nosso povo brasileiro.
Não precisou ser combinado, mas as matérias seguem um mesmo padrão. A linha principal de argumentação é: ‘se agrediu a mídia, violou o direito de liberdade de imprensa e de expressão, e é nazi-fascista’. A coisa fica tão louca que precisa haver uma explicação à altura pra uma atitude tão medonha: ‘Trata-se de um Ditador!’ Ah tá.. Agora sim, faz sentido. No entanto, como diz o Emir Sader, a imprensa se refere a Chávez como ditador, mas quando vai falar de Bush é o presidente Jorge W. Bush, quando se remonta a Getúlio, era o presidente Getúlio Vargas, ou mesmo pra falar de Costa e Silva, Castelo Branco e etc. Quando se fala sobre uma imprensa democrática, mídia e democracia, simplesmente fica de fora qualquer menção ao fato de que quem controla a mídia é um micro segmento social, encrostado no topo da montanha de pobreza e discriminação, que é a América Latina de modo geral. Não se fala que na mídia não tem negros, não tem pobres e não tem nada que deslegitime o capitalismo e nem a desigualdade abissal a que estamos ‘acostumados’. Será que os proprietários da RCTV estão pensando na democracia, ou mesmo na pobre nação venezuelana, ou estão pensando em seus próprios bolsos?
O fato é que quando se questiona a democracia na imprensa, não se questiona o fato de que são oligarquias e grandes empresas que detém o monopólio da mídia e se apropriam dela para fins privados. Na época do ultimo falido golpe contra Chávez, não se questionou o fato de que a RCTV apoiou tal atitude antidemocrática abertamente. No Brasil, não se questiona o fato de que o Grupo Naspers, que apoiou e financiou o Apartheid na África do Sul é proprietário de 30% da Editora Abril, responsável pela Veja. Isso aí, não, isso aí não deu no jornal...

# Hoje é sábado. Amanhã se completa uma semana desde a não renovação da concessão pra RCTV. E o JN lançou panfletos em cadeia nacional todos os dias dessa semana, sem exceção.

7 comentários:

  1. Fala Kobaia,

    Olha, pela pouca informações que possua acerca de tal assunto, posso afirmar que discordo das atitudes do governo venezuelano.

    O argumento referente a mídia manipuladora e plutocratica não refuta o sobreposição do princípio democrático da sociedade pluralista, pois mesmo que os proprietários da RCTV sejam os donos do poder econômico daquele país, ainda assim têm o direito de fazerem suas críticas e apoiarem que bem lhe aprouver. Cabe a sociedade, apesar de possuir pouco senso crítico em viturde da falta de educação, questinar as informações veiculdas por tais instrumentos televisivos.

    O que o governo Cháves deveria ter feito era rebater as crítica dirigidas ao seu governo por intermédio dos institutos do sistema democráticon não retirar as vozes do seus poderosos opositores que só buscam seus interesses econômicos, os quais vão de encontro, em tese, com os da população venezuelana.

    Medidas autoritarias não podem se abrigar sob o manto da construção de uma sociedade pautada pelo socialismo político.

    Os direitos coletivos não devem castrar o conteúdo dos interesses indivíduais. Estes dois princípios do Estado moderno devem se harmonizar a fim de assegurar o bem estar da sociedade como um todo. Para tanto deve-se utilizar da ponderação desses direitos no caso concreto com escopo de se descobrir qual deles deve prevalecer.

    Ora, quais os motivos que levaram o presidente Cháves a não revogar a concessão da RCTV? Perseguição política? Livrar o sofrido povo venezuelano de um intrumento de comunicação de massa que tão somente representa os interesses da burguesia? Não preenchimento dos requisitos para o deferimento de nova concessão?
    A resposta para tal questão deve esclarecer o mérito desse ato soberano do governo da Venezuela.

    Sumariamente, afirmo que a história já nos mostrou o que acontece quando alguns, sem a participação dos outros integrantes da sociedade, utilizam-se do poder e do argumento do bem comum quando estão no Poder. Os resultados são quase invariavelmente os mesmos. Ditadura socialista e sociedade de "abelhas".

    Com efeito, não podemos aceitar o simples argumento de que estão retirando o poder dos mais forte socialmente em benefício do povo sem nos questionarmos até que ponto a liberdade poderá ser tolhida em proveito da "igualdade".

    Se não houver harmonia entre a igualdade e a liberdade, não poderá se falar em fraternidade. Não se pode cometer injustiças com uma minoria em benefício da grande maioria. Se assim for,não será um sistema democrático que vise asseguar bem estar de todos.

    John Ralws afirma que o princípio da liberdade deve prevalecer sobre os demais, podendo esta ser limitada se gerar benesses para a sociedade como um todo, conforme sustentam os utilitaristas.

    Nosso juízo não pode ser obscurecido com discursos de direito ou de esquerda, devemos antes de no filiarmos a tais concepções nos questionarmos se tais posições guardam consonância com os princípios do Estado Constitucional Democrático de Direito, que assegura as liberdade de todos os estratos da sociedade.

    Não podemos ficar que nem o presidente Lula, em cima do muro, querendo agradar os que aplaudem seu discurso, bem como àqueles que apoiam (visando seus interesses) por meio de comunicação de massa.

    Sem mais me delongar, gostaria de consignar que o governo venezuelano, representado pela pessoa do presidente Chávez, cometeu um ato que afronta a democrácia. Apesar dos avanços nos serviços sociais daquele país, seus atos não encontram fundamento nos princípios que regem uma sociedade livre, igualitária e que respeita os direitos fundamentais da sociedade, sem qualquer forma de discriminação negativa.

    Só que eu tinha pra falar kobaia.

    Faloeswssss

    Cláudio Freire

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  2. P.s.: Ignore os erros de digitação.

    Alías, acerca dos verdadeiros detentores do poder, vale conferir os seguintes artigos:

    http://www.midiasemmascara.com.br/artigo.php?sid=5129

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Clube_de_Bilderberg

    Cláudio

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  3. No que se refere ao tema em discursão, essa entrevista é bastante oportuna, principalmente a parte que trata do Hugo Cháves e a expansão dos blocos econômicos para a formação da União Americana.

    http://p.php.uol.com.br/tropico/html/textos/2797,1.shl

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  4. Eu tbm to na barca do "sei pouco sobre isso" mas aí vai minha opinião..


    Sem sombra de duvidas existe a velha questão que quem é o dono do poder. Impossivel analisar a decisão de Chaves sem olhar por este prisma. O poder econômico está dominando a midia. A midia influencia o povo (que vota) e logo influencia a politica, que por sua vez influencia a economia e a ciranda tem inicio novamente!

    Eu fiquei de cara quando li que a GE (GENERAL ELETRIC - a mesma que faz turbinas de avião, motor de porta-avião) é controladora da NBC. Ela é só uma das grandes, existem outras...

    Também é impossivel pensar em corporações globais/familias que não possuem interesses politicos. (Ó o Bildeberg aí Claudio!)

    (Aí entra um outro postgigantesco sobre legitimidade da midia e varias outras coisas relacionadas)

    Vale lembrar tbm que não foi só a coitadinha da Rctv que apoiou o golpe. Só de emissoras foram 4! Venevisión, Globovisión, Televen e RCTV. Também tiveram empresários e até a PDVSA controlada pela oposição!

    Logo a discussão como lemos até agora é MUITO mais profunda do que a Globo e suas amiguinhas internacionais estão dizendo. Lá (como aqui e em todo lugar), a midia tem sim estreita relação com grupos politicos e econômicos, e é perfeitamente compreensivel ver a Rctv como um adversário politico que tentou depor o governo.

    E sinceramente... ESPERAR 5 ANOS pra respeitar a lei que estava lá mesmo antes dele assumir o governo, e não renovar a concessão de uma emissora que além de tentar derrubar o governo (golpe em 2002)ainda continuou veiculando propaganda contraria e apoiar a oposição golpista... Ô indio paciente!

    Duas das 3 golpistas restantes, sussegaram o facho e tiveram concessões renovadas e a outra restante tem mais 8 anos de concessão pra pensar melhor.

    Concordo com a questão da liberdade individual, sobre a questão do estado democratico e tal... Mas GOLPE DE ESTADO!? Em um governo democraticamente instituido?! Na boa...

    Achei perfeitamente aceitavel a decisão dele, tendo em vista o contexto que permitiu tal decisão (até assassinato os coitadinhos incitaram contra Chavez).

    Com relação a emissora que assumiu o espectro da Rctv... nem sei de nada =)

    Pergunta: O que um pais desenvolvido faria se uma tevê conspirasse contra o governo eleito? E como seria visto pela imprensa internacional?

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  5. Oie, poxa! Quanta informação ufaaa! Fiquei ate tonta agora! Hehehe
    Mas assim... Não tenho uma opinião tão formada sobre esse assunto, então como diz a minha mãe: “Quem conversa demais dá bom dia a cavalo” eu prefiro me resguardar mais um pouco, porem vou refletir sobre tudo que li aqui.
    Mas posso adiantar que sou bem rebelde em relação a alguns assuntos, principalmente quanto envolve a liberdade de expressão. Não concordei com a atitude que acabou tirando do ar a Tv venezuelana. Ameaça ou não, simplesmente tirar do ar para aliviar o calo socialista de Chavez ou sua estabilidade no poder não são conteúdos picantes pra mim. Ahh ta! Ta! Não precisa me lembrar do apoio ao golpe de 2002, mas e a ABC nos EUA? E o Channel 4 na Inglaterra? E a nossa querida Tv Globo?!
    Bom... Minha mãe ta secando o meu cabelo e to começando a achar que o secador aqui ta afetando o meu raciocínio... Bláaa! hehehe
    Bjim tio Léo!
    =***

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  6. Eitah Kobai, tah ficando mais velho, rrsrsrsrs

    Esse orkut tah difícil, então vou ter mandar os parabéns por aki mesmo.

    Feliz aniversário!

    Que Deus te abençoe e lhe proporcione muitas feliciddades hoje e semre.

    Fica com Deus.

    Abração Kabron

    Cláudio

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  7. Cláudio, Paulo e Thallita,

    Desculpem-me aí pela demora, esses tempos têm me deixado sem energia. Mas agora sim, vamos lá. Vou passar pelos comentários de vcs três ao mesmo tempo (mesmo porque quero postar um outro texto aqui).

    Cláudio, um ponto curioso que vejo na sua argumentação é que vc defende que a autonomia não deve ser questionada, mesmo sob a alegação de apoio deliberado à tomada antidemocrática do Estado, mas ao mesmo tempo suprime a autonomia do presidente eleito democraticamente de fazer algo previsto no código constitucional da democracia venezuelana.
    Sobre a tv aberta e tv digital, essa discussão é mais complexa e de repente a gente poderia fazer em outro momento. Mas sobre o que vc falou sobre a Globo, é bem por aí mesmo: não tem compromisso ético e moral com a construção de uma sociedade melhor. Já a questão das empresas de cigarro, RCTV, e democracia, acho que é bem como vc falou 'limitações ponderadas e justas', mas não acho ponderado e justo a oligarquia venezuelana deter 80% de toda a mídia televisiva. Acho que por aí.

    Já o que o Paulo falou, concordo que trata-se de um ciclo vicioso que, inclusive, começou lá 500 anos atrás e a mídia até hoje é uma capitania hereditária (o Emir Sader fala que a mídia impressa, revista e jornal, é detida pelas '4 famílias do apocalipse' hehe). Acho que foi bom também falar das trupe de emissoras que apoiaram em bloco o golpe, pois explica um pouco do porquê que as coisas foram veiculadas tão em uníssono aqui no Brasil: como o próprio nome já diz Globovisión é sucursal da Globo, que por sua vez foi a encarregada de dar a notícia pra nós. Como será que ela vem? hehehe.
    Uma coisa que vc falou é também importante de frisar: o que faz pensar que os donos da RCTV possuem o direito de dar apoio a um presidente eleito pelos trâmites democráticos!? Será que têm o direito de topar o jogo mas não topar perder?

    Thallita, valeu pelo comentário, desculpa a demora em responder. Nem vou argumentar vida corrida, não, pq nem tá tanto.. tem faltado energia pra mim nesses tempos, mas vou dar um jeito nisso. Tem um autor muito interessante que discute a temática do 'poder', chamado Foucault. Uma das análises que ele faz sobre o poder é que a troca de sujeitos nos cargos, a troca repentina de um regime político, ou mesmo um golpe de Estado não acaba com o poder que ora foi instituído. Pra explicar isso ele traz o conceito de micro-poder, que quer dizer, resumidamente, que o poder, uma vez instituído é capaz de se instalar nos micro-poros das relações sociais. Então, se por um acaso o golpe contra Chávez fosse bem sucedido, não seria a chegada de um novo grupo ao poder, mas sim, o velho grupo pegando o que sempre foi seu por herança.

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